19 de janeiro de 2010

Premiação na mostra da UFMT

O curta-metragem Entre Passos ficou em 3º lugar na premiação da 8ª Mostra nacional de Vídeos Universitários - UFMT, que aconteceu em dezembro no Cineclube Coxiponés!

Parabéns para toda equipe e elenco, o prêmio é de todos!

6 de janeiro de 2010

Um pouco sobre o processo

Esse texto foi escrito em abril de 2009 para uma publicação que acabou não ocorrendo. Mas achei uma pena jogá-lo fora então resolvi agora colocá-lo aqui no blog, mesmo sendo bem pessoal e pouco objetivo.

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Entre Processos de Criação Artística - Passos de uma experiência universitária

Qual estudante não passa por um momento de angústia quando chega o momento de desenvolver seu Trabalho de Conclusão de Curso? Dependendo da área e da instituição, essa fase pode ser muito diversa. Mas em cursos de audiovisual muitas vezes isso significa a feitura de um filme, geralmente em grupo. As relações pessoais se misturam com as profissionais, e é importante perceber os limites, principalmente com a consciência das particularidades de se estar realizando o projeto também para se graduar.

Esse conflito entre fazer um filme meio “por vontade própria” e meio “por obrigação para concluir o curso” é crucial e acredito que o melhor é aproveitar ao máximo a oportunidade que a Universidade dá ao prover a situação e os recursos para essa realização. O recurso pode não ser tanto assim, normalmente bem longe do ideal. Mas o amparo que se recebe dos professores, e mesmo do nome da instituição atrelada, pode ser bem aproveitado para melhor se dedicar ao projeto no qual se acredita.

A possibilidade de usar laboratórios e o acompanhamento dos professores-orientadores podem ser fundamentais na realização do primeiro “grande” filme. Mas me parece um erro pensar no TCC como “primeiro” filme. Os vídeos feitos nos semestres anteriores também têm uma grande importância e, quando levados a sério, podem sim ter um grande futuro em exibições e festivais. Não menosprezar os trabalhos, mesmo os exercícios, realizados previamente ao TCC já é uma forma de se preparar de verdade para esse momento.

Além disso, o TCC não é exatamente onde vai ser “aplicado tudo que foi aprendido antes”, mas também é o filme no qual você vai aprender muita coisa nova, e não só reproduzir aquilo que aparentemente já sabe. O tempo de produção maior também faz com que essa experiência traga ainda mais dúvidas e conseqüentemente maior aprendizado.

Logo no início desse processo, observamos duas formas básicas de organização: ou um grupo se reúne em torno de afinidades comuns e depois pensa um projeto ou uma pessoa tem uma idéia e passa a agregar um grupo para realizá-la. Particularmente acredito mais na primeira opção e foi assim o início do projeto Entre Passos.

Nasce um processo
Algumas pessoas se reuniram com uma vontade de propor um TCC “diferente”. Ninguém sabia direito o que seria isso, mas alguma coisa lá dentro nos dizia que queríamos fazer algo minimamente fora dos padrões já estabelecidos nos Trabalhos anteriores. Não se tratava de querer um reconhecimento por mudar alguma coisa, mas uma busca pelo desconhecido e em abrir portas para a criatividade.

Começamos a nos configurar realmente como grupo quando surgiu o termo videodança nas discussões, trazido pelo Gustavo Fataki, bailarino do Grupo de Dança Contemporânea da UFSCar, que assumiria a direção de coreografia. Apesar de não ter um conceito fechado, esse termo, cada vez mais usado em festivais e editais nos circuitos de dança e audiovisual, nos pareceu uma boa oportunidade de explorar novas possibilidades dentro do curta-metragem, casando com os anseios do grupo que já vinha conversando sobre a possibilidade da inserção da dança no TCC.

Outra idéia que estava desde o princípio é que gostaríamos de utilizar técnicas de animação no filme. Ainda não sabíamos como, mas havia a certeza de que a animação teria que ser justificada na narrativa para valer o esforço da produção. Isso exigiu tratamentos do roteiro da Flávia Salvador em parceria com o diretor de animação, Thiago Rigolino, para uma real fusão entre a história e as formas a serem animadas.

A abertura ao diálogo era essencial, ainda mais em um ambiente universitário. Não só entre o grupo mas também na relação com os colaboradores. Reconhecemos a imensa ajuda dos assistentes, alunos e ex-alunos do curso, que integraram a equipe de mais de trinta pessoas. Isso sem falar no elenco, dez bailarinos que estiveram envolvidos nos três meses de ensaios que precederam as gravações.


Realização
Pela escolha da videodança, um termo relativamente novo, era importante um processo de pesquisa permanente. Além da tradicional busca por referências audiovisuais, assistíamos a espetáculos de dança sempre que possível. Alguns membros fizeram oficinas de videodança e aproveitei as férias para fazer um curso de dança contemporânea, uma experiência útil para o diálogo com o diretor de coreografia e com os bailarinos, além de sentir no corpo o que poderia trabalhar com o elenco.

Tudo isso foi acompanhado por um vivo caderno de anotações e muitas conversas com o grupo, mesmo que virtualmente. Criamos também um wikispace para compartilharmos online nossas primeiras experiências com todos os interessados. O registro deste material foi importante para a memória do processo, por valorizarmos o filme como aprendizado e não só como produto final.

Com elenco e roteiro definidos, entramos na rotina desmembrando a reunião geral em três: Produção (Produção Executiva, Direção de Produção e Assistência de Direção), Estética (Direção de Arte, Direção de Animação, Direção de Fotografia e Direção) e Roteiro/Conteúdo (Roteiro, Direção de Coreografia e Direção). Cada membro oficial tinha ainda reuniões com seus assistentes, de acordo com as necessidades específicas. Apesar de ter sido criticada durante a banca de avaliação, essa organização se mostrou muito útil. Os resultados, propostas e decisões eram sempre apresentados ao grupo todo nos encontros semanais sob orientação da Professora Luciana Araújo, o que mantinha a coerência entre as áreas.

Durante o processo, muitas vezes nos questionávamos porque estávamos trabalhando nessas condições: um elenco com pouca ou nenhuma experiência em vídeo; três locações, sendo uma delas externa e outra demandando uma pintura de arte trabalhosa; animação junto com o vídeo; máscaras encobrindo as expressões e dificultando a movimentação; movimentos de dança exigindo conhecimentos de uma outra linguagem, entre outros. Poderíamos ter feito uma videodança muito mais simples. Mas o “simples” nunca foi a primeira opção para esta equipe. Estávamos sempre em busca de algo minimamente diferente, novo. O desafio nos moveu desde o princípio, e é ele que nos alimentava a cada dificuldade.

Reflexão
Acredito muito na importância de refletir sobre o filme depois de pronto. No nosso caso, a própria Universidade nos exige isso, através de um relatório que é entregue, junto com o filme, aos membros da banca examinadora do TCC.

É no momento desta banca, aliás, que muita coisa vem à tona. Pela primeira vez pessoas analisam seu trabalho finalizado, e provavelmente pela última vez levando em consideração as intenções e condições expostas no relatório. Pois passado esse momento acadêmico, a obra audiovisual passa a falar por si, sujeita aos olhares, sentimentos e interpretações dos espectadores que encontrar pela frente.

É difícil deixar esse filho ir embora e seguir seu caminho. Sempre achamos que ele ainda não está pronto. Alguns filmes talvez nunca estejam, e vão se tornar os famosos “filmes de gaveta”. Mas, para evitar esse destino cruel, é preciso desde o princípio preparar-se para essa separação inevitável.

No caso do “Entre Passos”, isso foi feito com uma constante pesquisa da inserção da videodança nos circuitos de exibição. Isso não significa que deixamos de fazer o filme que queríamos em prol de algum festival ou edital, mas sim que estávamos atentos às oportunidades durante todo o processo. Assim, quando o filme ficou pronto, nada mais natural do que se dedicar à execução do plano de distribuição que foi sendo montado em paralelo à própria obra.

(Laura Teixeira, 08/04/2009)